Créditos: Juliana Fernandes / Imagem Unsplash

Como faço para trabalhar como Tech Writer?

Mari Moreira
10 min readJul 9, 2020

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Algumas dicas para que você quem tem vontade ou curiosidade em trabalhar com Technical Writing

Talvez uma das principais dúvidas que tenho percebido nos comentários dos últimos textos, ou em conversas pela rede, é a de como começar a trabalhar como Technical Writer.

  • Quais as habilidades exigidas de um Tech Writer?
  • Como conseguir o primeiro emprego em Technical Writing?
  • Como funciona a carreira de Technical Writer?

Confesso para você que, apesar de hoje ter uma maior clareza do assunto, eu ainda busco resposta para estas perguntas.

Por isso que, para este texto, eu pretendo trazer tantos os aprendizados da minha jornada como Tech Writer quanto referências sobre o assunto para traçar esse “caminho” até você começar a atuar em Technical Writing, combinado?

E como seria esse caminho?

1. Comece trocando experiência com outros Tech Writers

Sem dúvida, eu não teria chegado até aqui se não tivesse conhecido e trocado experiências com outros Technical Writers.

Conversar com profissionais que já atuam na área podem ajudar você a ter mais clareza de como funciona o dia a dia, o escopo de trabalho e dicas de como você pode ingressar no mercado.

Inclusive, você pode tirar insights a partir destas conversas de quais possíveis caminhos pode trilhar. Por exemplo: se você quer trabalhar em uma empresa de segmento X, já pode pesquisar quais assuntos relacionados ao setor e, aos poucos, ir se especializando ;)

2. Entre aos poucos no universo tech

Se você, assim como eu, não vem da área de tecnologia (por exemplo: marketing, jornalismo, letras e afins), certamente terá como primeiro desafio o de se acostumar com este novo universo.

Estes primeiros passos talvez sejam os mais demorados, pois a cada dia você descobre um conceito por meio de discussões com desenvolvedores ou mesmo durante a documentação do produto.

É como jogar um videogame que, a cada fase destravada, você amplia seu repertório e ganha segurança para escrever sobre determinados assuntos.

Vou te dar um exemplo do que aconteceu comigo. Até pouco tempo eu não saberia explicar o que significa “fazer um deploy” ou “gerar uma nova release”. Hoje, eu já me sinto à vontade para discutir com desenvolvedores e trazer minha visão de comunicadora aliada a estes conhecimentos de tecnologia.

O que pode ajudar bastante é estudar sobre assuntos relacionados a esta área. Na Udemy, você encontra diversos cursos de Technical Writing, como também de habilidades relacionadas:

A maioria dos cursos é em inglês, mas é possível encontrar alguns em português.

3. Desenvolva habilidades de olho no seu contexto

Sendo bem sincera, eu não acredito que exista um hack definitivo de quais habilidades você tem de aprender porque depende do contexto no qual você está.

No meu caso, eu comecei pelos assuntos que diziam respeito aos produtos que documento, mas você pode seguir com o caminho com qual se sentir mais confortável.

De fato, as sugestões que segui são realmente as que trouxe até este ponto do texto, logo:

  • Seguir profissionais ou empresas de tecnologia nas redes sociais (LinkedIn, Medium e Twitter, principalmente);
  • Pesquisar por cursos na Udemy — como os que citei antes;
  • Leia artigos com conceitos, ferramentas e depoimentos sobre a área.

4. E experiência na área ou portfólio?

Acredito que esta situação seja bem parecida com a enfrentada por quem quer migrar, por exemplo, para área de UX Writing.

No caso de Technical Writing, é um pouco diferente porque, apesar da área ainda estar amadurecendo no nosso mercado, ela já existe há mais tempo. É possível que você, inclusive, encontre profissionais que trabalhem como Technical Writers há mais de 5 anos, por exemplo.

Porém, a visibilidade que essa área tem ainda é pequena. Logo, imagino que as empresas ainda deverão amadurecer como montar vagas para Technical Writers, definindo melhor seu escopo e plano de carreira.

De tudo que falei, acho que a principal mensagem que deve ficar é: Tech Writing é uma área com diversas janelas de possibilidades. Se você gosta de comunicação e tecnologia, esta pode ser a sua oportunidade!

É possível ir adquirindo experiência, por exemplo, fazendo estudos de caso, estudando documentações públicas ou mesmo contribuindo com a documentação de projetos open source (que, para quem não sabe, são projetos públicos).

Inclusive, o Google tem um programa chamado Season of Docs que conecta projetos open source que precisam de ajuda com suas documentações e Technical Writers que têm interesse em fazer portfólio.

EXTRA: Com a palavra, quem atua na área

Eu não podia deixar de finalizar este trilha sem perguntar a meus colegas da Comunidade Tech Writing BR suas percepções de como iniciar sua carreira de Technical Writer:

André Sato
Senior Technical Writer na Nubank

“Minha dica para quem quer entrar na área é algo que a pessoa vai levar para toda carreira. Pesquise. Pergunte. Estude.

São três princípios que implicitamente um TW aplica na sua rotina independente da indústria ou produto que estiver documentando.

Pesquisar: É importante pesquisar sobre a área, como funciona, qual o papel do profissional, quais os tipos de empresas que contratam esse perfil para assim ter uma noção do que te espera.

Perguntar: Faça conexões! Use grupos, fóruns, canais e o que mais encontrar para saber de profissionais da área como é de fato a rotina.

Estudar: Eu sempre digo que o brasil ainda está devendo uma graduação voltada para a área e consequentemente, o perfil do TW ainda é uma página sendo escrita pelos “desbravadores” desse mercado. Para suprir um pouco dessa lacuna de conhecimento teórico, eu recomendo e já fiz alguns cursos pelo Udemy. Me ajudou muito a ter uma visão fora daquilo que eu executava dentro da empresa.

E como eu disse no começo, esses três princípios me acompanham todos os dias nesses cinco anos de carreira. Eu gosto de pesquisar e estudar os temas que irei documentar para assim obter algum conhecimento técnico e só então partir para a etapa de perguntas com os times. Dessa forma, eles conseguem me explicar detalhadamente o que foi implementado ao mesmo passo que eu consigo me situar no contexto deles.”

Juliana Meyer
Tech Writer na VTEX

Sente que caiu de paraquedas na área?

Tamo junto. A maioria dos Tech writers que conheci vieram dos mais diversos contextos, ou mudaram de área recentemente. Pra ter uma ideia, no meu time da VTEX temos jornalistas, engenheirxs mecatrônicos, engenheirxs elétricos, e pessoas da Administração, Relações Internacionais e Biblioteconomia. Na América Latina ainda não temos um curso específico para área, o que contribui com a diversidade de perfis que acabam atuando com documentação. Esse é um nicho que permite navegar em vários backgrounds, e mesmo não percebendo de cara, é bem provável que sua formação contribua com seu trabalho em tech writing.

Alimente sua curiosidade:

Um traço em comum entre tech writers que já tive o prazer de conversar é a nossa curiosidade. Essa sede de esclarecer o que antes era nebuloso é viciante! Não desanime diante do desconhecido. A princípio, a complexidade nos intimida. Mas com o tempo, você perceberá que é esse desconhecido que te motiva no dia a dia da área. Aprenda assuntos novos, que mesmo não estando ligados diretamente com o que você documenta, podem aguçar seu faro técnico, e acender sua vontade de aprender.

Construa pontes entre áreas:

A área de documentação é privilegiada por transitar entre diversas outras. Temos contato com designers, engenheirxs, desenvolvedorxs, analistas de suporte, e gerentes de produto. Isso nos dá uma abordagem holística, unindo visão de produto, negócio e experiência do usuário. É muito importante que saibamos transitar entre esses universos, construindo pontes quando necessário. O time de suporte identificou um ponto de dor na UI? Traga designers responsáveis por essa tela para a conversa. Estão recebendo muitos requests, além do throttling que seu sistema aguenta? Avise account managers responsáveis por esse cliente. Construir pontes é um ótimo jeito de você aprender no processo.

Seja parte do time de produto:

Produtos digitais estão em evolução constante. Manter a documentação atualizada, acompanhando novos releases pode parecer uma tarefa difícil — e de fato é, se você for a única pessoa responsável por isso, ou mesmo fazendo parte de um time de documentação. Integrar-se ao time de produto é essencial para antecipar mudanças. Para isso, faça amizades, participe de sprints, e esteja na mesma plataforma de gestão de tarefas que desenvolvedorxs, por exemplo. Mas equilibre a agenda do time de produto com tempo e espaço para sua documentação. As vezes dizer não para reuniões é necessário.

Breno Barreto
Lead Technical Writer na VTEX

Eu me tornei technical writer antes de saber que technical writing existia. E até hoje essa chegada de paraquedas ao mercado tem sido uma constante para profissionais da área.

Por isso, depois de dois anos trabalhando com documentação, me pareceu importante parar por um segundo (que no meu caso se transformou num hiato de um ano) para refletir sobre o meu trabalho e encontrar respostas para perguntas tão básicas quanto “Eu gosto de ser tech writer?” e “Por quê?”

As respostas talvez ajudem quem está chegando agora:

1. Sim, eu gosto. O tech writer é um dos profissionais que precisam ir mais fundo no entendimento dos detalhes de como um produto foi construído e como funciona — não com a motivação de quem desenvolve, mas sim com a de quem educa. Somos pagos para estudar, fuçar, questionar, entender. Curiosos profissionais, pode-se dizer.

2. A curiosidade pode ser o motivador inicial, mas não basta. Um tech writer precisa transformá-la no trampolim para a expertise. Esse estudo em forma de investigação é o que toma a maior parte do nosso tempo. E — para mim — parte da recompensa é a conquista de conhecimento em si. Somos estudantes profissionais.

3. O tech writer tem a chance de ir fundo no entendimento do produto sem a necessidade de fazê-lo entre quatro paredes. Pelo contrário, ele precisa sair do espaço fechado do desenvolvimento e procurar a interação com o usuário. O tech writer muitas vezes é o próprio usuário — o primeiro de todos. E, portanto, está em posição privilegiada para trazer feedbacks que influenciarão o desenvolvimento do produto. Para explicar, é preciso aprender; e para aprender, é preciso colocar-se no lugar de quem usa. Por isso, empatia é essencial.

4. Eu adoro produzir conteúdo, sobretudo escrito. É na hora de transformar o aprendizado em texto que vemos todo o esforço de investigação se transformando em valor concreto para o usuário. Aqui, o tech writer precisa pensar menos como escritor e mais como arquiteto da informação. É o momento de refletir sobre formato e estrutura, de mais uma vez colocar-se no lugar do usuário e priorizar a clareza em detrimento do estilo.

Por trás de todo esse ciclo, um universo ainda mais complexo se abre à medida que o nível de senioridade do tech writer se eleva. Assuntos como visão editorial, alinhamento com roadmap de produto, priorização, ferramentas, interação com outros times, processos de revisão, localização do conteúdo, construção de time, entre muitros outros, começam a se tornar cada vez mais relevantes — e o tech writer expande seu escopo, visão estratégia e impacto. Isso significa que o caminho é longo e, ainda bem, justifica uma carreira inteira de aprendizado e evolução.

Dário Estevão
Tech Writer no TJDFT

"O início de uma carreira de Tech Writer deve unir duas paixões: a escrita com outras habilidades em uma área tal com Engenharia, Medicina, Tecnologia da Informação (TI) ou Educação. Se vier com uma pitada de autodidatismo facilita mais ainda.

Comecei a atuar com redação técnica pela necessidade de administrar o conhecimento na minha organização, mais especificamente na área de TI.

A melhor maneira de se começar é fazendo, na tentativa e erro. Começamos criando alguns templates de procedimentos, tutoriais e AsBuilt como parte do trabalho de uma equipe de especialista de suporte.

Todo procedimento novo que eu realizava, eu já documentava tudo e disponibilizava para outros colegas. À medida que o mesmo procedimento precisava ser realizado, outra pessoa pegava minha documentação e realizava o passo a passo ali descrito. Com isso, a base de conhecimento estava sendo reutilizada e revisada a todo momento.

Foi então que conheci o Technical Writing (TW), provocado por um cientista da IBM que relatou o seu desejo de que essa técnica fosse introduzida nas escolas. Fiz uma pós-graduação em Produção de Textos e passei a escrever sobre o assunto.

Hoje coordeno um projeto de administração do conhecimento de uma coordenação de TI usando o que eu chamo de Curadoria do Conhecimento, ao qual usa KB (com Knowledge Centered Support — KCS) e Technical Writing (TW).

Temos uma equipe de documentação que já segue diversos métodos, como Plano de Documentação e Style Guide, mas ainda não se tornaram TW. O objetivo é capacitá-los a serem Tech Writers."

E aí, você se animou para entrar neste universo? O que achou deste conteúdo? Deixe seu comentário, vou ficar feliz em saber suas percepções :)

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Mari Moreira

Senior Technical Writer at @iFood • Community Manager at Tech Writing Brasil • Content Creator (@marimoreiratw at LinkedIn and Instagram).