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Os seus sonhos são realmente seus?

Mari Moreira
6 min readSep 28, 2020

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Essa pergunta me passou pela cabeça nos dias em que passei um tempo quarentenada em Recife.

Tudo começou de forma bem despretensiosa: uma das minhas amigas de infância mandou mensagem e combinamos de nos encontrar — isso, claro, com todas as medidas de segurança cabíveis. Papo vai, papo vem, ela começou a me contar sobre as reflexões que ela vem tendo esses meses, entre elas, a sua escolha profissional.

Ela, bacharel em Direito e atualmente concurseira, admitiu que, talvez, a sua decisão em seguir pela carreira não tenha vindo de uma vontade 100% dela, mas sim de fatores como a pressão em ter escolher um curso no período do vestibular.

Ao ouvir seu relato, o que mais me chamou a atenção foi perceber como a história dela era parecida com a de outras amigas nossas, que também se reinventaram e, hoje, construíram carreiras que jamais imaginaram ter quando estudávamos juntas no Ensino Médio.

E foi aí que me bateu um estalo: quantas vezes dizemos ter ou mesmo realizar um sonho que achamos ser nosso, mas no fundo é mascarado por pressões e/ou expectativas alheias?

Existe uma resposta definitiva sobre o assunto? Acredito que nem um pouco. Mas, neste texto, me propus a traçar possíveis caminhos para te encorajar a conquistar coisas que você realmente queira.

Ponto de partida: não existe um script de sucesso que sirva para todos nós

Coincidência (ou não), na semana passada a Luciana Padovez fez uma publicação no LinkedIn que levantava esse assunto: o de como muitos de nós fomos levados a acreditar que existia uma “receita de bolo” pronta que seria a garantia de sucesso. De preferência, antes dos 30 anos.

Os ingredientes? Muito simples, alguns diriam:

  • Faça o vestibular ainda no terceiro colegial. De preferência, tente passar em uma universidade de prestígio (na minha realidade, era a UFPE);
  • Opte por um curso que possa te trazer estabilidade financeira.

Por estabilidade, leia-se cursos que, socialmente, são tidos como bem conceituados, como Direito, Medicina, Engenharia e Administração.

(Ps: imaginem a reação dos meus pais quando disse que iria fazer jornalismo, hein? Rs)

  • Durante a faculdade, consiga nos melhores estágios. De quebra, lute por aquela efetivação porque, afinal, ninguém quer terminar a graduação desempregado.
  • Se formou? Se você já tiver um relacionamento estável (e monogâmico), os passos naturais são casar e ter filhos.

Talvez você tenha chegado até aqui e esteja pensando: “Mari, mas todo mundo sabe que hoje isso não quer dizer nada, cada um constrói o seu caminho”.

E eu, de cara, vou concordar contigo. Só que quando você vive em cidades menores — geralmente fora do eixo RJ-SP -, isso não é tão óbvio. Estou falando de algo que parece antigo, quando na verdade aconteceu com pessoas que viveram a adolescência nos anos 2010.

Aliás, ouso dizer que, mesmo quem não é mais adolescente hoje, talvez viva dilemas parecidos:

  • Vou continuar em um emprego CLT, mesmo sabendo que a minha paixão é empreender?
  • Vou continuar em tal carreira, só porque me formei nela?
  • Vou fazer um curso de tal assunto só porque todo mundo da minha área estuda, mesmo não sendo algo que eu gosto?
  • Vou fazer pós-graduação só porque fica bem no currículo, sendo que nem gosto tanto do tema?

Não se trata de deixar de tomar decisões mais convencionais, mas sim de escolher aquilo que você realmente quer para sua vida. E você, melhor que ninguém, sabe o que te move, seja uma carreira, um hobby.

Alguns caminhos que podem ajudar

Antes que pareça contraditório dar direcionamentos em um assunto tão particular, calma! Isso não é uma receita pronta.

Minha ideia aqui é muito mais esboçar alternativas que podem (ou não) fazer sentido para você e, quem sabe, te ajudar a garantir que a autoria e o protagonismo dos seus sonhos sejam seus, de fato. ;)

1. Às vezes é acaso, às vezes planejamento, mas acima de tudo é autoconhecimento

Parece confusa essa dica, mas vem comigo que te explico.

Como falei lá no começo, nossa caminhada é muito particular. Muitas vezes, durante o percurso, podem acontecer situações que te levem a conquistar esses sonhos. Essas situações podem ser previstas — com muito planejamento -, ou às vezes surgem, como que “caindo de paraquedas”.

Foi o que aconteceu comigo, por exemplo, quando me tornei Technical Writer. Gosto de dizer que descobri minha paixão pela área ao ser contratada, meio que “por acidente”, para trabalhar com algo que não sabia ao certo. Acaso total. Mas foi por me conhecer e entender minhas motivações, que percebi minha identificação com a área e, hoje, me sinto realizada profissionalmente.

Dias desses, descobri uma citação de um matemático francês chamado Blaise Pascal, que diz (em tradução livre):

“A coisa mais importante da sua vida é descobrir sua vocação, embora isso dependa do acaso”.

Logo, se a bússola da vida pode nos levar a caminhos que nem imaginamos, melhor saber bem quem nós somos diante disso tudo para encarar o que vier. Isso, claro, sem esquecer do que nos move e do que faz sentido ficar (ou não) em nossa vida.

2. Crie seu próprio conceito de sucesso

Se a nossa trajetória é única, também deve ser aquilo que consideramos sucesso ou não.

E, se pensarmos dessa maneira, automaticamente devemos rever a forma como nos comparamos aos outros. Afinal, não é porque tal pessoa conquistou tal coisa que eu, diante da minha realidade, estou sendo “passada para trás”.

É só pensar que, já que não um script pronto para todos, então eu posso criar meu conceito de sucesso e brigar por ele. Certo? ;)

E aí, o céu é infinito: experimente novas atividades, leia, busque aprender sobre coisas novas e trace, você mesmo, a rota daquilo que quer conquistas. Não posso afirmar com certeza, mas arrisco dizer que sua relação com a carreira — e mesmo com a vida pessoal — vão ganhar um novo frescor.

3. Permita-se ver e rever a rota sempre que achar necessário

Essa, em particular, foi uma lição que demorei a aceitar. Muito porque, durante muitos anos, eu disse a todas as pessoas que conhecia que seria repórter de TV e, após a faculdade, mudaria para fora do País para ser correspondente.

A vida foi acontecendo e, por N motivos, esse sonho não aconteceu. Quando me formei desempregada, lá em 2015, uma das minhas sensações que tive foi a de fracasso. Cadê aquele cenário que eu desenhei para todo mundo e que lutei tanto para alcançá-lo?

Hoje, até pelos anos de análise, acredito que aquele sonho não cabia mais na Mari que já morava sozinha em São Paulo há alguns anos. E isso representou, para mim, um movimento muito forte de acolher aquele sonho antigo e me permitir criar novos.

Quantas possibilidades e caminhos você está deixando de lado por achar que é tarde para mudar? Ou, mesmo, que é motivo de constrangimento?

Como já dizia Raul Seixas, somos uma metamorfose ambulante. Então, nada mais justo que a gente possa ir e vir, ver e rever planos e sonhos, não? Até porque o que hoje faz mais sentido para sua vida pode não fazer daqui a algum tempo.

E sabe o quê mais? Tá tudo bem. O importante é não esquecer de ir atrás do que realmente sonha e acredite. Afinal, nesse enredo você é roteirista e protagonista!

Essa reflexão fez sentido para você? Teria alguma sugestão para essa lista de caminhos? Vou adorar ler seus pitacos por aqui. ;)

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Mari Moreira
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Written by Mari Moreira

Senior Technical Writer at @iFood • Community Manager at Tech Writing Brasil • Content Creator (@marimoreiratw at LinkedIn and Instagram).

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