Na foto, as “garotas do ENIAC”: seis mulheres que foram selecionada para programar o primeiro computador eletrônico e digital

Tecnologia sempre foi lugar de mulher: 7 protagonistas que fizeram história na área

Mari Moreira
6 min readAug 14, 2020

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Existe uma expressão popular que, na certa, você já deve ter ouvido:

“Quem não é visto, não é lembrado”.

Quando o assunto é a presença da mulher no mercado de trabalho, então, há grandes chances dessa frase ter algum sentido. Ainda mais se pensar em áreas que, durante muito tempo, foram consideradas “somente para homens”.

Dias desses, fiz uma enquete no meu Instagram com a seguinte provocação:

“Eu te digo que conheço alguém que trabalha com tecnologia. Seu primeiro pensamento é de que estou falando de um homem ou uma mulher?”

Apesar da amostra pequena de 40 respostas, 88% das pessoas responderam que pensaram ser um homem.

Este texto é para mostrar a você que, sim, a história da tecnologia é marcada pelas mulheres e que muitas delas foram responsáveis por criar sistemas que usamos até hoje — e que talvez você não saiba disso.

Houve o tempo em que mulheres eram maioria na tecnologia

Pode parecer difícil de imaginar, mas as mulheres tiveram um papel fundamental para o desenvolvimento da informática.

O motivo? Segundo uma reportagem da BBC Brasil, esses equipamentos eram utilizados, na maioria das vezes, para realizar cálculos e processamento de dados, atividades que, naquela época, eram associadas à profissão de secretária.

Não demorou muito para que, além de usuárias da tecnologia, as mulheres passassem a ocupar as salas de aula. A foto abaixo, de 1974, é da primeira turma de Ciência da Computação do IME (Instituto de Matemática e Estatística), da Universidade de São Paulo (USP).

Em uma classe de 20 alunos, 14 eram mulheres e somente 6 eram homens. Em outras palavras: a turma era 70% composta de mulheres.

Turma de 1974 de Ciência da Computação do IME-USP.

Enquanto isso, a turma de 2016 desse mesmo curso formou 41 alunos, tendo apenas 6 meninas entre ele, ou 15% do total.

Por que, então, temos hoje temos menos mulheres?

Existem algumas razões que contribuíram para a evasão de mulheres em cursos e profissões focadas em computação e demais tecnologias.

Mas, durante a escrita deste texto, encontrei uma frase da pesquisadora Eliane Pozzebon, coordenadora do curso de Engenharia da Computação da Universidade Federal de Santa Catarina, que me chamou a atenção:

“Uma razão que acredito ser importante para a baixa procura pelos cursos de informática pelas meninas é o pouco incentivo que é dado a elas para a área de exatas nos ensinos fundamental e médio.”

Em resumo: apesar de termos sido maioria em algum momento da história, o avanço da área fez com que homens passassem a ocupar mais postos e a profissão foi se masculinizando.

Agora sim: 7 mulheres que marcaram a história

1. Ada Lovelace (1815–1852)

Se você fizer uma pesquisa rápida no Google por “mulheres na tecnologia”, arrisco dizer que a Ada estará em todas as listas.

Afinal, a Condessa Ada Lovelace — nascida em Londres (Inglaterra), em 1815 — é considerada a matemática que escreveu o primeiro algoritmo do mundo. Em outras palavras: ela é a primeira mulher programadora da história.

Quebrando paradigmas no século 19, a Condessa Lovelace escreveu seu primeiro livro aos 12 anos. Aos 17, já sabia que queria ser matemática e não desistiu até conseguir. Ficou conhecida por ter uma mente de “ciência poética” porque via a programação como um meio de colaboração entre pessoas e sociedade: uma revolução para época.

Ela morreu de câncer de útero, aos 36 anos, mas até hoje sua história traz legados. Na década de 70, por exemplo, seu nome inspirou uma linguagem de programação: a linguagem Ada foi criada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, apesar de não ser mais tão usada hoje em dia.

2. Grace Hopper (1906–1992)

Outra figura pioneira é a desta senhora. Grace, que nasceu em Nova York, foi a primeira mulher a se tornar almirante da marinha norte-americana. É também a primeira, da história da Universidade de Yale (EUA), a se formar com PhD em matemática.

Entre seus feitos, está a criação do COBOL, uma linguagem de programação conhecida para bancos de dados comerciais.

De acordo com canaltech, sua história mais famosa é a de que ela teria popularizado o termo “bug”, que é um jargão muito usado na área para indicar problemas em um software.

3. Dorothy Vaughan (1910–2008)

E se eu te contar que o que hoje conhecemos como NASA teve início com um grupo de mulheres negras?

Dorothy, que nasceu na cidade do Kansas, se tornou uma das poucas mulheres a trabalhar na primeira missão espacial norte-americana, que colocou o astronauta John Glenn no espaço.

Formada em matemática e especializada em computação, ela chefiou um grupo de mulheres negras formadas em matemática na NACA (predecessora da NASA).

4. Irmã Mary Keller (1913–1985)

Não se deixe levar pelas aparências: mesmo sendo freira, a Irmã Keller foi uma das criadores da linguagem de programação Basic.

Se você estudou, ou conhece alguém que tenha estudado TI, sabe que aprender Basic é bem comum nas primeiras disciplinas do curso.

A Irmã também teve atuação forte nas oficinas de informática em Cleveland (EUA) e escreveu 4 livros sobre computação e programação, que são referências na área.

5. Radia Perlman (1951-atual)

Desde cedo, a Radia teve contato com tecnologia: filha de engenheiros — seu pai trabalhava com radares e sua mãe com matemática e computação –, não é surpresa que o gosto por computação surgisse.

Nascida em Postmouth (EUA), ela é a cientista de computação que criou o redes STP que, simplesmente, é responsável por termos o que chamamos de internet. Por isso, Radia é considerada a “mãe da internet”.

Atualmente, ela trabalha na Dell EMC.

6. Karen Spark Jones (1935–2007)

Você consegue imaginar um mundo hoje sem o Google?

Então precisa agradecer muito à Karen. Essa britânica trabalhou a de 1974 até 2002 no laboratório de pesquisa da faculdade de Cambridge e, dois anos antes, criou a “freqüência inversa do termo”, que é a base que usamos hoje nos algoritmos de busca e localização.

Ela faleceu de câncer, aos 71 anos, porém seu legado viverá para sempre, pois em 2008 a Sociedade Britânica de Computação criou o prêmio Karen Spark Jones.

7. Katie Bouman (1989-atual)

Katie ficou conhecida recentemente por ter desenvolvido o algoritmo que tornou possível que 8 telescópios ao redor do mundo fossem capazes de contabilizar as imagens e gerar a foto real de um buraco negro. O algoritmo se chama CHIRP.

Ela é PhD e atua como professora assistente no Caltech que fica dentro do departamento de computação do MIT.
Esses feitos não nos deixam ainda mais intrigados quando descobrimos que Katie tem 31 anos.

A campanha #BusquePorElas do Google, que comentei em uma publicação no LinkedIn essa semana, encerra com a seguinte frase:

“O mundo tá cheio de mulheres incríveis. É só procurar”.

Aproveito esse trecho para dizer que mais do que procurar, vamos incentivar que mais mulheres se aventurem pela tecnologia. Afinal, você deve ter notado que esse é um lugar em que elas dominam muito bem.

Gostou das nossas protagonistas? Ainda tem muitas mulheres que não coube nessa lista mas, se você quiser, pode rolar uma parte 2 deste texto. ;)

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Não poderia deixar de agradecer à Carol Vilas Boas, minha mentora, que me ajudou muito a pesquisar e a conhecer essas mulheres. Esse texto é um pouco meu, um pouco dela, todo nosso ❤

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Mari Moreira

Senior Technical Writer at @iFood • Community Manager at Tech Writing Brasil • Content Creator (@marimoreiratw at LinkedIn and Instagram).